A Mãe terra grita por Agroecologia, Da Mãe Terra Esperança e resistência.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

O que é Juventude

Texto retirado do Texto Base da 31ª Romaria da Terra do Rio Grande do Sul

Juventude         
           Podemos considerar a juventude como uma fase (ou idade) da vida humana ou como uma categoria social.Como fase a juventude é a passagem entre a infância e a considerada vida adulta: idade que inicia na puberdade e termina de acordo com a cultura de cada tempo e lugar, por exemplo, com o casamento, com o auto-sustento, entre outros, ou que vai dos 15 aos 24 ou 29 ou 32 anos (aumenta cada vez mais na medida em que faltam postos de trabalho na sociedade).Como categoria social historicamente construída juventude é o movimento (ou onda) de cada época social determinada por como os jovens são identificados, como eles se auto-conhecem e por qual é o papel deles (desafios ou tarefas) na sociedade vigente.
 1.     Onde e como está (contexto)
              Atualmente, conforme o censo demográfico (IBGE 2000), no Brasil temos 47,9 milhões de jovens de 15 a 29 anos e, desses, uma “minoria” de 8,6 milhões de jovens brasileiros estão no campo, sendo 4,59 milhões de homens e 4,01 milhões de mulheres. Conforme estimativa (FEE 2006), no RS, temos 10,87 milhões de habitantes e, desses 2,73 milhões são jovens entre 15 e 29 anos. No campo rio-grandense há 1,64 milhões de habitantes (15% da população) e, desses, 413 milsão jovens na mesma faixa de idade. Este número aumenta quando somamos a ele os “jovens urbanos” dos pequenos municípios que trabalham na roça, no campo.Os jovens que vivem no campo e do campo moram em um lugar e tem uma cultura, uma cara. Não existe apenas como uma juventude homogênea ou a juventude camponesa. Há várias juventudes camponesas: jovens descendentes de imigrantes europeus; jovens caboclos; jovens indígenas; Jovens negros; jovens que moram nos vales dos rios; jovens que moram na roça e trabalham em fábricas, entre outras. E existe o olhar do jovem e o olhar do adulto. Vamos procurar olhar como os jovens percebem.No campo (roça) a juventude está, na sua maioria, ainda marcada pela sociedade patriarcal hierárquica (pai patrão). Por isso o jovem se percebe como alguém submetido a um outro (o pai, o presidente da comunidade) e que só faz o que “alguém” manda (no máximo opina). Em casa, talvez ganhe um cantinho de terra para “brincar” de roça, além de ajudar no resto. E, quando rompe, saindo de casa, deixa de ser percebido como jovem. Sabemos que nem todas as famílias são assim.Quando é a jovem a situação fica ainda mais delicada porque não se rompeu ainda a divisão sexual do trabalho (meninas ajudam a mãe na casa e no entorno e se faltam meninos, ajuda na roça) e permanece uma relação não clara com a terra (ainda existe a idéia de que a terra, se ainda der para ser dividida, é para os homens, a mulher ou consegue pelo casamento ou vira professora, por exemplo) e as corajosas vão acampar (as vezes precisam ter um filho para criar para poderem ser cadastradas), porém, são essas que tem uma relação muito mais cuidadosa com a terra, por ter um contato muito mais direto (botar a mão na terra). Quando nos dispomos a ouvir as queixas da juventude eles afirmam, entre outras, que: não são ouvidos; estão em posição de submissão; são cobrados como adultos; são utilizados como mão-de-obra (executar o que adultos planejaram); dizem que confiam, mas ficam de longe cuidando.
              Neste contexto, muitos jovens saem da terra ou da casa (morada) do pai e vão tentar a vida na roça (trabalhar para outros) ou acampar (aos 18 anos) como forma de conquistar um pedaço de terra, se ali querem permanecer. Mas tendem a sair do campo e migram para a cidade, não porque querem ou a cidade é bonita, mas porque  o que esta presente e é pregado pelos meios de comunicação, principalmente, é que na roça a vida é ruim, dificultosa, querem estudar, têm trabalho e não tem renda, ... ecom isso, a sociedade capitalista procura tirar o jovem da roça, primeiro em busca de mão de obra e agora para esvaziar o campo: tira a escola, ... Só permanecem no campo os jovens que querem e os que ficam morando na roça e vão diariamente trabalhar na cidade.Há aqueles que querem ficar no campo, pois só se percebem como sujeitos quando estão em contato com a “mãe terra”, com a natureza, e na maioria são jovens homens. E há aqueles que não querem sair do campo, vivem e percebem a contradição entre o agronegócio e a agricultura camponesa, têm mais condições de estudo, têm participação política (participam de alguma pastoral e movimento popular), e estão dispostos, a construir um projeto popular para o campo, baseado na agroecologia e na cooperação, articulado com um projeto popular de sociedade e, entre estes, está crescendo a participação de jovens mulheres. Estes percebem o campo como lugar de vida e não como lugar do agronegócio.Atualmente, neste contexto, o jovem está sendo disputado pela sociedade de consumo, pelo capital para aderirem ao agronegócio, pelos movimentos sociais para empunharem a sua bandeira e serem lutadores do povo, pelas igrejas que querem renovar o rebanho, pela “empresa” de diversão, e assim por diante.
 2.     Como se organiza
            Os jovens e as jovens tendem a se reunir em grupos, nem que seja para comentar o que aconteceu no final de semana passado e o que e como vão se organizar para participar do final de semana seguinte.Eles e elas participam onde de fato decidem, pois os jovens são sujeito de ação social. Precisam fazer parte de uma organização real. Não serve uma organização paralela entendida como um espaço dos jovens onde podem se reunir e prosear (uma “ala jovem”, por exemplo), mas não é um espaço onde eles podem decidir. Nem uma organização onde são tutelados por algum adulto destinado para tal tarefa. Devemos nos perguntar: Qual é de fato a relação de poder que existe nos espaços (família, escola, comunidade de igreja, no movimento popular, ...) onde a juventude camponesa participa?Ogrupo de jovens é um dos espaços onde de fato há participação, desde que não tutelados. A articulação, como Igreja, entre estes grupos é realizado, no campo, por uma organização criada a 25 anos atrás (em 1983) e dirigida por jovens: a Pastoral da Juventude Rural. Há grupos de jovens que apenas se articulam em nível paroquial. Há jovens que, por opção ou necessidade, fazem parte de organizações do Movimento Social Popular: estão no MST, no MPA,MMC, MAB, Movimento Sindical ou organização sindical que disponibiliza espaço a esses, movimentos da Igreja, ... 
3.     Desafios (que viram tarefas)
Os jovens e as jovens enfrentam os mesmos problemas do conjunto da sociedade. Por isto devemos fazer frente a problemas objetivos e subjetivos:
·         Parar de culpar a juventude por problemas do conjunto da sociedade, tais como: drogas, álcool, sexualidade, consumo. Isto deve ser discutido. Não se resolve pela repressão.
·         Superar as visões distorcidas do jovem camponês: a visão romântica (vê o campo como sitio de lazer e o trabalho no campo como “diversão”), a visão “jeca tatu” (vê como atrasado); a visão de que não devem trabalhar (ficam vendo TV e acabam se tornando “mamíferos de luxo”).
·         Desmascarar a ideologia de que “a cidade é melhor que o campo” desvelando a diferença das condições de vida no campo e na cidade e desmascarando a desvalorização cultural que estigma o camponês.
·         Superar o autoritarismo paterno que gera submissão e não contribui na formação para a autonomia que gera protagonistas(ter ambientes de dialogo, participar das decisões, mulheres e homens tratados do mesmo jeito, decidir o que, como, quando e onde plantar, bem como o destino dos lucros).
·         Repensar o papel da juventude na sociedade e sua posição nas relações de sociedade: os jovens e as jovens são sujeitos que agem na sociedade; são presente.
·         Perceber o momento de transição (formação): passagem desujeito parcial, pois o que ele produz é transitório e no espaço delimitado de quem produz, para sujeito político, passando a pensar a sociedade e articulado a ela o campo.
·         Lutar por políticas públicas para a juventude camponesa, entre elas: escola básica no campo e do campo; espaços de cultura e lazer nas comunidades camponesas ou rurais; entre outros. Transformar o campo em um lugar bom para viver.
·         Parar com a “marcação” sobre a juventude, a saber, com a idéia de que o jovem não é confiável e por isto deve ser vigiado e controlado (por um adulto, é claro) e de que ele se sinta obrigado a “provar algo”, o tempo todo, para o mundo adulto e as instituições, inclusive a Igreja e os Movimentos Sociais


 Fundação de Economia e Estatística.
 Valor conseguido através de regra de três com os dados da FEE: [(população rural x jovens totais) / população total].

Juventude como Construção Social

 Texto de Paulo Mansan, PJR do Espirito Santo, retirado de sua qualificação 
do mestrado sobre juventude camponesa
                Essa discussão dos Movimentos sociais juntamente com a academia vem quebrando um pouco da invisibilidade da juventude. Apesar disso, o tema da juventude sempre esteve presente nas ciências sociais. Algumas vezes se trabalhou com uma idéia genérica de juventude, em outros momentos se enfatizou as especificidades no interior desta. Os jovens foram vistos de diferentes modos e por diferentes métodos. Os estudos sobre a juventude indicam que devemos percebê-la como uma construção social, cultural e histórica dinâmica, intimamente ligada às transformações contemporâneas. É importante para este estudo, sob nosso ponto de vista, a perspectiva construída por Abramo (1997), que em sua revisão bibliográfica afirma que a categoria Juventude situa-se num contexto histórico.  (...) a noção de juventude é socialmente variável. A definição do tempo de duração, dos conteúdos e significados sociais desses processos modificam-se de sociedade para sociedade e, na mesma sociedade, ao longo do tempo e através das suas divisões internas. (ABRAMO, 1997)   Ao revisarmos a construção teórica de Abramo, entendemos que para a autora a juventude é uma categoria em movimento e em constante construção, ou seja, é uma categoria sem atributos pré-definidos, essencializados. Ela também afirma que para a academia, a juventude aparece, ou seja, sai da invisibilidade só na passagem do século XIX para o século XX. Porém, aparece como um problema.  A visibilidade da juventude e sua tematização como problema constróem-se, nesse período, através do surgimento de um comportamento ‘anormal’ por parte de grupos de delinqüentes, ou excêntricos, ou contestadores, implicando todos, embora de formas diferentes, em um contraste com os padrões vigentes (Abramo, 1997).   Logo nessa época a juventude aparece claramente em cena, quando causa problema, ou quando foge da normalidade. Seguindo esta mesma linha de compreensão, Groppo é outro autor que partilha da perspectiva da juventude como uma construção histórica, em que o jovem não pode ser definido simplesmente pela faixa etária. Segundo ele, tem que ser entendido a partir das realidades sociais e culturais, em que os sujeitos jovens estão envolvidos:  (...) ao ser definida como categoria social a juventude torna-se, ao mesmo tempo, uma representação sociocultural e uma situação social. Ou seja,a Juventude é uma concepção, uma representação social ou criação simbólica,  fabricada pelos grupos sociais ou pelos próprios indivíduos tidos como jovens. (Groppo, 2000, p.7).
 Os próprios autores clássicos da sociologia, como Mannheim, explicaram que é “preciso pensar juventude e sociedade em termos de reciprocidade total”(Mannheim, 1968), ou seja, o termo “juventude” designa um conjunto de relações sociais vividas pelos elementos considerados jovens de uma determinada sociedade, pois “(...) depende em grande parte das influências orientadoras e diretoras vindas de fora saber se essa potencialidade será suprimida ou se será mobilizada e integrada num movimento”.  Ou seja, segundo este autor, na formação da juventude, em grande parte, participam as construções sociais históricas por ela vivida (Mannheim, 1968).
Na revisão bibliográfica de Castro (2005), ela menciona Foracchi (1972), que diz que duas gerações convivem em dado contexto histórico, “juventude” caracterizada como um momento do ciclo-de-vida de todo indivíduo, em oposição à condição “adulta”. Para Foracchi (1972), esta abordagem contribui para se problematizar a definição físico/biológica na medida em que,
[...] não sendo passível de delimitação etária, a juventude representa, histórica e socialmente, uma categoria social gerada pelas tensões inerentes à crise do sistema. Sociologicamente ela representa um modo de realização da pessoa, um projeto de criação institucional, uma alternativa nova da existência social. (Foracchi (1972) in Castro, 2005:160).
Já Bourdieu argumenta que a vivência geracional é construída a partir de “aspirações sucessivas de pais e filhos, constituídas em relação a estados diferentes da estrutura da distribuição de bens” (1983:118). No mesmo sentido, estaria associada a diferenças do acesso à formação. Ou seja, as relações geracionais sofreriam influência das mudanças no sistema de ensino que ampliaram o acesso à formação, ao mesmo tempo em que desvalorizaram os títulos que representam cada ciclo de formação. Assim, a noção de geração seria construída relacionadamente, por oposição, mais que por aproximação.
Como se percebe acima, não trabalhamos simplesmente com o corte etário de 15-24 anos, definido por organismos internacionais como OMS e UNESCO, ou outro corte etário qualquer, como os governamentais, de 14-29 anos, que procuram homogeneizar o conceito de “juventude” a partir de limites mínimos de entrada no mundo do trabalho reconhecidos internacionalmente e através dos limites máximos de término da escolarização formal básica (básico e médio).  Pretendemos trabalhar com autores que abordam que a idade como categoria classificadora é transitória e só pode ser analisada em uma perspectiva histórica de longa duração. Um outro caminho seria analisar os ritos de passagem que indicam a “entrada” e a “saída” da condição “jovem” e suas construções simbólicas. Como por exemplo, Bourdieu, em “A Juventude é apenas uma palavra” (1983), em que este autor relaciona idade biológica e idade social, afirmando que são indissociáveis.
Nas palavras de Bourdiear,
(...)idade é um dado biológico socialmente manipulado e manipulável; e que o fato de falar dos jovens como se fossem uma unidade social, um grupo constituído, dotado de interesses comuns, e relacionar estes interesses a uma idade definida biologicamente já constitui uma manipulação evidente. Seria preciso analisar as diferenças entre as juventudes (...) (1980) 
Para o autor, a idade é socialmente construída e varia em cada sociedade nos diferentes momentos históricos e a partir de distinções de idade, gênero e classe. Concordamos com essa definição, e no nosso caso, estamos preocupados com a construção da juventude enquanto um ator político em construção nos movimentos sociais da Via Campesina. 

 FORACCHI, M. M. A Juventude na Sociedade Moderna. São Paulo: EDUSP, 1972.

JUVENTUDE DO CAMPO e o CAPITALISMO.

 Texto de Paulo Mansan, PJR do Espirito Santo, retirado de sua qualificação 
do mestrado sobre juventude camponesa

Na análise da Via Campesina, 
nos últimos anos está aumentando o número de sem terra no campo.
 Ocorreram processos de reformas agrárias em vários países do mundo, 
apesar de cada país viver momentos históricos diferentes e haver diferentes 
graus de organização dos camponeses. O que gera algo comum é o fato de que 
em todas elas, houve um processo de democratização da terra,
 e de diminuição da pobreza e das desigualdades sociais nos 
meio rural.” ( VIA CAMPESINA, 2004,  p. 10).

           Porém, nos países em desenvolvimento não podemos dizer que houve grandes processos de reforma agrária, ainda quando nestes países vive a maior parte dos camponeses do mundo. Isso ocorreu por dois fatores: a existência de um modelo capitalista dependente, colonial, que articulou a grande propriedade com a exportação de produtos primários como grãos, carne e matérias-primas necessárias à indústria;  o poder político nas mãos dos grandes proprietários - oligarquias rurais - articulados com as burguesias nacionais e estrangeiras. Nestes países de terceiro mundo que não fizeram a reforma agrária persistem os mais variados problemas sociais como a pobreza e a miséria, a concentração de terra, riqueza e renda tanto no campo quanto na cidade.  Mazelas estas agravadas nos últimos anos devido a opção dos governos pelas políticas econômicas neoliberais: 
   “ essas políticas subordinaram as economias agrícolas locais aos interesses do grande capital internacional, abriram os mercados às empresas multinacionais, elevaram as taxas de juros, desmantelaram o setor público agrícola que é fundamental para o meio rural, como a pesquisa agropecuária, assistência técnica, e as políticas de preços, de crédito e de seguro. Isso provocou um aumento de camponeses sem-terra e um desespero dos pequenos e médios proprietários, que já não encontram mais na agricultura uma alternativa econômica viável para o progresso econômico e social de suas famílias e de suas comunidades.” ( VIA CAMPESINA, 2004, p. 11). 
          Aliado a este fator neoliberal está o processo de aceleração da destruição da pequena propriedade provocando um aumento do êxodo rural, especialmente da Juventude. O jovem que antes tinha a segurança de permanecer na pequena propriedade dos pais, trabalhar na sua própria terra com o sentido da produção familiar e da pertença ao território e à comunidade, agora está subordinado a um processo de expulsão do campo, de sua terra, suas raízes.O capitalismo ainda trabalha com um mecanismo cultural, constrói que o campo é atrasado e retrógrado, e junto com isso soma uma infinidade “de faltas” que existe no campo.  No I seminário da Juventude  da Via Campesina Brasil,  em São Paulo Escola Nacional Florestan Fernandes, novembro de 2006, 60 jovens dirigentes de 22 estados Brasileiros tiraram bandeiras centrais para a permanência, fixação e reprodução do jovem camponês. O objetivo do seminário era: ”O presente Seminário surge da percepção da Via Campesina diante da desarticulação da juventude camponesa. Inicialmente, a Igreja e os Partidos Políticos se apropriaram das demandas da juventude. Em seguida, o mercado e a direita também passaram a disputar esse segmento da sociedade. Dentre as questões que permeiam a temática da juventude organizada se encontram: educação, trabalho e renda, ausência de políticas públicas, arte, cultura e violência. Desse modo, a perspectiva deste Seminário é discutir métodos de aglutinação da juventude camponesa e urbana. E os temas que as unificam. (ENFF, São Paulo, 2006, p.01)  
   As oito principais bandeiras  que saíram do encontro com a perspectiva de unificar as necessidades da Juventude das organizações camponesas, foram:
1- Reforma Agrária, a necessidade de o país pensar uma política de terras para a juventude camponesa;
2 - Educação do Campo, na área da alfabetização de acordo com dados do próprio governo, existem hoje 3 milhões de jovens analfabetos no país, destes a maioria é do interior da região nordeste. É fundamental apontar perspectivas para a inserção da juventude no Ensino Básico e Superior;
 3 - Trabalho como geração de renda. Crédito, assistência técnica, cooperativas de crédito, agroindústrias, capacitação técnica para os jovens camponeses;
 4 - Organização coletiva da produção, como forma de esperança e crença no campo; produzindo de forma agroecológica. O princípio é o do cuidado com o movimento, com a terra e com a vida;
5 - Cultura, faz-se necessário multiplicar o acesso e a produção de bens culturais: cinema da terra, teatro, tele centros do campo;
 6 - Esporte e lazer para o jovem não ter que procurar fora ;
 7 – Formação política, humana e técnica para os jovens camponeses, além de garantir infra-estrutura do campo: estradas, luz, comunicação, acesso a informação, transporte, água, saneamento para fazer do campo um lugar bom de viver.Assim, percebemos que pelas necessidades que os Jovens camponeses têm de ter uma vida no campo, compatível com o principio de dignidade e pertença,  falta quase tudo. A relação juventude camponesa e capitalismo é repleta de contradições, não diferente das vividas pelos jovens urbanos, apesar dos jovens do campo terem particularidades acentuadas no sentido de pertença, de comunidade e de integração com a terra como parte integrante e constitutiva de seu ser. As contradições se dão no bojo do próprio sistema metabólico do capital que, ao avançar, intenta destruir tudo o que é próprio, particular, específico e originário.
Para isto 
 capital utiliza formas objetivas e subjetivas de se impor como modelo único e imperante frente a qualquer outro modo e critério de ver e viver a vida. É em meio ao que se tem, emanado pelo capital, e o que se deseja ser emanado da cultura camponesa, que este jovem se faz com dúvidas e temores que só podem ser, pouco a pouco, superados a partir de uma militância política engajada que o revele o mundo e as possibilidades de superação. Por mais desproporcional que seja a correlação de forças entre a juventude camponesa e o sistema do capital, é necessário notar que a juventude do campo é uma categoria que sempre se recria junto com o campesinato, sendo por vezes o elemento mais dinâmico da família camponesa e das comunidades. Em muitas comunidades e assentamento onde a Via campesina tem grande parte de seus moradores como seus militantes é a juventude camponesa quem dá a esperança de dias melhores, seja pela sua alegria, pela sua organização em grupos, ou seja pela disposição nos trabalhos da família  e da comunidade, enfim é a esperança da reprodução do ser camponês.


Relatório do I seminário nacional da Juventude da Via Campesina, com a participação de todas as organizações da Via campesina. Novembro de 2006, Escola Nacional Florestan Fernandes, Guararema- São Paulo. Participação de 60 dirigentes camponeses e 15 urbanos.

Cultura Camponesa

Texto, Equipe de Formação da PJR-RS, roteiro mensal do mês de junho de 2008, para grupos.

            O que significa cultura? São os costumes, as relações que as pessoas estabelecem entre si, em determinado local, tempo histórico, variando também com o modo de vida e com a faixa etária que se encontra. É herdada de gerações em gerações, influenciando no modo de comer, vestir, falar, ser... Desde que nascemos somos condicionados a viver em uma determinada cultura. Quem mora no Nordeste tem um modo de vida diferente de quem mora no Sul do Brasil, por exemplo. Assim como quem mora na cidade vive diferentemente de quem mora no campo. Este tema é muito amplo, pois também no campo existem diversas maneiras de viver. Nós enquanto jovens camponeses, herdamos alguns costumes como o cuidado com a terra e a natureza, a roça como lugar de vida, o cultivo de sementes crioulas, a solidariedade e a partilha com o próximo, festas e integração com a comunidade como os filós, aniversários, encontros de famílias, festas juninas...Um grande problema que a juventude camponesa enfrenta hoje, é a perda de sua cultura. Estamos dentro de um sistema que impõe um modo de ser e viver, que mata os princípios e valores camponeses a fim de sustentar o capital. Faz o jovem perder sua origem camponesa, sendo muitas vezes ridicularizado  Um bom exemplo disto são as festas juninas. 
             Sua história foi distorcida, passando uma imagem do camponês como um ser atrasado e sem educação, através do famoso ”Casamento na Roça”. As festas juninas na verdade, surgiram com o objetivo de celebrar a colheita, principalmente do milho, onde todos se reuniam para colher em mutirão e depois faziam uma grande festa, agradecendo a ajuda da comunidade e os frutos do trabalho.na roça. Partes disto ainda eram divididas entre as famílias Fazendo um contra-ponto ao modelo capitalista que rouba nossa identidade, impondo uma cultura individualista e consumista, a PJR, juventude da roça organizada tem como um de seus princípios, resgatar a verdadeira cultura camponesa. Propiciando um lazer diferenciado, valorizando a música, as lendas, a dança, a poesia, leituras e conservando hábitos culturais de cada comunidade.  

Retomada da Missão da PJR

Texto, Equipe de Formação PJR-RS, roteiro mensal do mês de maio de 2008 para grupos.
         Durante o ano passado e início deste ano, em todos os grupos de jovens do Brasil se discutia sobre a missão da PJR. Em Fevereiro deste ano, durante o Seminário Nacional e o 3º Acampamento Pedagógico da PJR - RS, o tema da maioria das discussões era a Missão da PJR. Então, através de todos os debates, foi elaborado um texto final, em relação a Missão da PJR, hoje, no início do nosso encontro, já comentávamos algo sobre isso, agora, queremos compartilhar com a juventude da PJR, o que todos ajudaram a construir!!

A Missão da PJR é:
  1. Evangelizar a juventude camponesa através:
Do serviço solidário e gratuito; do diálogo aberto e franco; do anuncio da boa nova do reino; do engajamento em um grupo (testemunho de comunhão);
  1.  
    1. Do profetismo(anuncio, denuncia e testemunho), diante dos desafios da sociedade;
    2. Do seguimento da pratica libertadora de Jesus de Nazaré, como Igreja, na construção do Reino de Deus.

  1. Conscientizar especialmente os jovens e as jovens empobrecidos do campo contribuindo:
    1. Na formação da consciência critica e política;
    2. No conhecimento da historia da luta do povo;
    3. Na resistência cultural.

  1. Formar militantes cristãos discípulos e missionários ,para:
    1. Conhecer as juventudes e seu contexto;
    2. Realizar trabalho de base, visando o engajamento de mais jovens;
    3. Ajudar na nucleação de grupos de jovens;
    4. Contribuir na articulação entre grupos;
    5. Contribuir na organização da PJR e formação de protagonistas;
    6. Participar da comunidade e contribuir na renovação eclesial;
    7. Engajar-se nas “esferas do Reino” em vista do ascenso do movimento de massa, da transformação da sociedade e da construção de um projeto justo e solidário;
    8. Vivenciar os valores cristãos, especialmente o serviço, a solidariedade e a partilha.

  1. Contribuir na construção do Projeto Popular de campo articulado ao de sociedade, através:
    1. Do debate deste projeto com a juventude (participação popular);
    2. Da vivência da agroecologia como modo de vida e principio de produção;
    3. Da construção da educação do campo e no campo;
    4. Da democratização da renda e geração de trabalho;
    5. Da soberania alimentar;
    6. Da construção de espaços de lazer e arte-cultura;
    7. Da comunicação popular;
    8. Da democratização da terra e luta da pela reforma agrária;
    9. Da vivência de novas relações de poder.

Questões para debate:
A missão da PJR ainda está em construção até novembro deste ano, quando acontecerá a Assembléia Nacional da PJR. Convidamos todos a refletir sobre as questões abaixo e enviar para a secretaria Estadual.

1.      Na opinião do grupo, ainda ta faltando alguma coisa para a missão? Se houver, especificar.
2.      Eu estou disposto a assumir esta missão?
3.      Que práticas sugerimos para o grupo para ir colocando essa missão em prática?O que a leitura Bíblica que lermos anteriormente, tem a ver com a história e missão da PJR?


 Evangelizar é, através do testemunho de jovens cristãos e do anúncio, ajudar outros jovens a compreender e assumir a pessoa de Jesus Cristo e o Projeto do Reino de Deus.
 Estes quatro passos são intrínsecos (fazem parte) da evangelização e formam uma seqüência pedagógica a ser seguida na prática (cf. diretrizes gerais da ação evangelizadora - Doc. CNBB 71,15-16).
 A evangelização é uma ação eminentemente profética (cf. Doc. CNBB 80 p. 22).
 Reino de Deus (ou dos céus) é uma categoria teológica para designar o Projeto de Deus que não pode se realizar totalmente no processo histórico, por causa das contradições do ser humano. Ele já se realiza, no processo da história, em cada momento que o povo tem mais Vida, em que a sociedade de torna justa e solidária. Mas, esta realização parcial que está na sociedade atual é, ao mesmo tempo, sinal do Reino definitivo. Não é algo que se realiza apenas após a morte.
 Conscientizar é ajudar as pessoas a superar uma consciência intransitiva (ingênua, fechada, dogmatizada) em vista de uma consciência transitiva (crítica, histórica).
 São jovens que se assumem como cristãos que se colocam a serviço da transformação da sociedade a partir dos princípios e valores do Evangelho.
 Cf. o Documento de Aparecida, precisamos ser, ao mesmo tempo, discípulos (pessoas que optam por Jesus e se colocam a caminho) e missionários (anunciadores e forjadores do Reino de Deus e sua justiça).
 Entendemos por “esferas do Reino” todos os espaços de militância que assumimos, além da PJR. Pode ser: numa pastoral específica (como na CPT, por exemplo), num movimento popular; num movimento sindical; num partido político ou numa organização política; entre outros.
 Projeto de Sociedade em vista da transformação social, que está em construção, pela classe trabalhadora, neste momento histórico e visa ser um passo para a construção de uma sociedade que vá além do capital. Busca a implementação de reformas estruturais e o acumulo de forças para a transformação. Nesta construção somamos forças com a Via Campesina, as Assembléias Populares, a Consulta Popular e a Articulação da Juventude do Campo e da Cidade (também conhecida como Levante da Juventude).